Jornalista esportivo do Grupo Band RS admite torcer pelo Internacional

Jornalista Leonardo Meneghetti (Foto: Reprodução/Metro)
O jornalista Leonardo Meneghetti (foto) escreveu em coluna publicada nesta quarta-feira (13), no jornal Metro, que torce pelo Internacional de Porto Alegre.

Ele disse que procurou esconder isso durante os últimos 30 anos porque “a pressão proíbe”, atribuindo o fato à mediocridade do meio e ao patrulhamento.

Segundo o Coletiva.net, Meneghetti é diretor regional da Rede Bandeirantes no Rio Grande do Sul e tem sempre presença forte no noticiário referente ao esporte. Ele participa de um programa de televisão na Band e tem coluna nos jornais Metro e ABC Domingo, este do Grupo Sinos.

Leia abaixo a íntegra de sua coluna.

“SIM. EU TENHO UM TIME DO CORAÇÃO!

Trinta anos. Passei as últimas três décadas como anônimo. Torcedor anônimo. Desde que escolhi esta profissão, de jornalista, e atuando na crônica esportiva, escondo o meu time do coração. Como se fosse um criminoso. E até minha família paga esta conta. Meus filhos foram educados a não desvendar o time do papai.

Faz 30 anos que não uso a camisa do meu time. Nas ruas seria como sair com uma metralhadora nas mãos. Nem em churrascos de amigos, temendo que uma foto viralize. E nem dentro de casa. Aliás, faz 30 anos que não tenho a camisa do meu time! Tenho do Estudiantes, do River, Independiente, Boca, Penharol, da Celeste, da Argentina, do Real Madrid, do Fluminense. Dezenas de camisetas. Mas não do meu time. Por que sou proibido de usar. A pressão proíbe. A mediocridade. A patrulha.

Todos nós perdemos amigos com câncer. O Estado Islâmico degola inocentes. As crianças morrem de fome na África. O tráfico toma conta das esquinas. A corrupção corrói o País. E as pessoas estão preocupadas com o time para o qual os cronistas esportivos torcem!

Faz trinta anos que não comemoro vitórias do meu time. Nem fico triste com as derrotas. Me sonegam este direito. Vou aos estádios e fico contido. Vibrar é uma palavra que desapareceu do meu dicionário. Quando meu time perde, vence, é humilhado ou dá uma goleada, tenho que ter a mesma cara de paisagem, de abobado. Não posso ter sentimento. Como se enfiassem uma agulha no meu olho e eu nem piscasse!

E isto é falso. Por que o futebol dói, alegra, entristece, emociona, nos faz pulsar!

E quando meu time faz gol, o silêncio me acompanha. O berro de “tá lááááá” fica enrustido. Não ultrapassa a laringe, não chega ao palato. Dissipa-se pelas minhas veias, circula pelo meu corpo, retorna aos pulmões. Permaneço estático.

Consequência desta terra que vivemos, onde tudo é um lado ou outro, ximango ou maragato, contra ou a favor, esquerda ou direita, vermelho ou azul.
Proibi minha mãe de dizer, a quem perguntar, para que time eu torço. Como se isso fosse muito importante. Até bem pouco tempo eu pedia que a minha mulher, que torce para o rival, não usasse as camisas que eu lhe dei de presente. Não queria causar suspeitas.

Sinto-me um criminoso. Alguém que tem algo de muito perigoso a esconder.

Cumpri a pena máxima no País: 30 anos de reclusão emocional. Há jornalistas esportivos que cumprem quarenta, cinquenta, uma vida toda. Eu estou preso há 30. Minha emoção está presa há 30 anos.

E quando minhas críticas aos clubes são mais ácidas e trincam os dentes de torcedores lá vem o adjetivo. “Colorado desgraçado”, “Gremista safado”, para ficar nos termos publicáveis. Pois agora, passo apenas a ser safado ou desgraçado, já que meu clube do coração será público e não haverá mais desconfiança.

Cansei de me esquivar. De me esconder. De disfarçar.
Eu sou colorado. Torcedor do Internacional. Minha cor é o vermelho. Há 48 anos. Isso nunca mudou minha forma de ver as coisas, de criticar, de elogiar, de revelar.

Fiz amigos dos dois lados. E inimigos também.

Mas eu sou Colorado. Neto de colorados. Filho de Colorados. Pai de colorados.
E daí? Sou pior do que alguém por isso? Sou melhor do que alguém por isso?

Não!

Deixem-me torcer para o meu clube. E me deixem fazer jornalismo esportivo sério e isento como sempre fiz nestes 30 anos. E agora eu vou comprar uma camisa do meu time. Vermelha. Vamo vamo Inter!”  


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