Albio Melchioretto #98: Devaneios de um radinho a pilha

Colunista questiona o papel do rádio na mídia esportiva atual.

(Foto: Mateus Bruxel/Agencia RBS)
A magia do rádio! Este era o anuncio que havia numa velha caixa de papelão onde meu pai guardava um motorádio preto pequeno a pilha. Era deixado em cima da geladeira. Tínhamos uma televisão, com imagem em preto e branco, ligada a uma antena espinha de peixe que sintonizava apenas o SCC, emissora local que retransmitia sinal do SBT. Aquele radinho surrado era a ponte que me permitia acompanhar o futebol, saber do meu time, entender o universo da bola sem visualizá-lo. A única porta. Com o findar dos anos de 1980, popularizou-se aqui no bairro as famosas antenas parabólicas, depois a chegada da televisão por assinatura e cada vez mais o rádio ficou no escanteio. Hoje aquele velho motorádio não existe mais. A ação de ouvir rádio ainda permanece.

Mas qual o lugar que o rádio ocupa hoje na mídia esportiva?

Faço esta pergunta diante da popularização dos canais de televisão. Nos próximos dias vamos experimentar o maior evento esportivo, o Rio-16. Nas Olimpíadas serão 16 Sportvs, 3 ESPNs, 2 FoxsSports, 2 Records, 2 Bands (aberta e Sports) e ainda a Globo, totalizando 26 canais lineares mostrando os jogos. Ao trocar de competição e pensar o Brasileirão, apenas, todos os jogos das duas primeiras divisões mostrados, além de jogos da terceirona e quarta divisões. Opções não faltam. Então, para que ainda rádios?

Faço a pergunta apenas com o intuito de provocar. A televisão e o rádio são mídias bem diferentes o que torna a comparação injusta. Como também possuem uma lógica de relacionamento com o público alvo bem. Mas caminham juntas. Cheguei neste tema por conta do carregamento de várias estações pelas operadoras pagas. Por exemplo, das operadoras nacionais via satélite, a Oi carrega 33 rádios, a Claro, 19, a Sky por sua vez 17 e a Vivo/GVT nenhum. É um diferencial? Acredito que o motivo principal talvez não seja estações de rádio que leve a escolher uma operadora, mas as presenças destas estações proporcionam uma boa experiência ao vivente. Quando troquei de operadora, ponderei esta possibilidade, entre as outras vantagens. Volto a pergunta, para que rádio? Para trazer uma emoção que somente a memória e a imaginação são capazes de descrever.

Albio Melchioretto (Colunista)
Contato: albio.melchioretto@gmail.com
Twitter: @amelchioretto
Ainda tenho um radinho a pilha, quase não o uso, porém, não me canso de deixar minha televisão em alguma rádio e desfrutar da memória de infância acompanhando as jornadas esportivas. Como escreveu um grande amigo em sua dissertação, “a conservação do passado pela memória é tudo o que fica da passagem do tempo. Do presente não fica nada”. Do tempo passado a conversação de uma lembrança onde as jornadas esportivas eram menos políticas, os debates mais inocentes e o futebol mais gostoso de se ouvir. Talvez as jornadas continuam políticas, os debates maliciados e o futebol ruim, mas minha memória conservou outra realidade, apenas a desejada.

A mídia esportiva está aí, fazendo seu papel, sem mocinhos, nem vilões, enquanto nós, espectadores que num universo de desejos construímos tais personas. Elegemos A ótimo e B detestável. Como, por exemplo, a polícia catarinense que proibiu radinhos a pilha nos jogos aqui no Estado, por conta do risco físico que ela representa. Como amante do rádio, e motivado pela memória, acho esta ideia um absurdo. Os amantes do rádio foram eleitos perigosos, pois poderiam arremessar pilhas no gramado e na sequencia elegemos a PM/SC como imbecil.

Por conclusão, limar o rádio da mídia esportiva é minimizar a informação.  Em tempos pasteis onde a ode do polidamente correto insiste em ficar, e pasteurização dos debates uma tendência, a rádio esportiva pode ainda ser uma linha de fuga para aquele que deseja outra coisa, senão esta que está dada.

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