Albio Melchioretto #102: Só há espaço para o futebol?

Colunista analisa a preferência televisiva pelo futebol em detrimento a outros esportes (Foto: Reprodução)
Ao publicar uma ideia o escritor corre o risco de colonizar o leitor. Uso a expressão colonizar no sentido de tutelar seu modo de pensar, de acordo com a força dos argumentos apresentados. Na última coluna, tive a satisfação de me divertir com a caixa de comentários. Aprendi coisas interessantes com elas. Vejo que aquilo que escrevi passou muito longe da ação de colonização do leitor, mas apropriou-se da ideia de provocação, onde alguns continuaram a escrita. A coluna não acaba no ponto final, ela continua na voz do leitor. Gostei da participação de vocês!  Hoje, vou dar continuidade a um debate que acompanhei no programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, que foi ao ar na quarta-feira, 17 de agosto, quando acompanhei a discussão sobre o não-lugar dos esportes olímpicos na mídia diária.

No referido o programa, passei pelo canal no exato momento que os participantes debatiam sobre a ausência de retorno comercial dos esportes olímpicos. Um dado apresentado fazia referência ao jornal Lance, onde as três capas de menor venda envolviam esportes diferente do futebol, que compõe habitualmente a capa. Como também, outro comentou da baixa audiência da ESPN com transmissões cotidianas de outros esportes, expediente que se repete também noutros canais. Este fenômeno chega também ao futebol feminino, que já ocupou espaço de discussão na coluna. Então, como fomentar o esporte olímpico na televisão, se ele não atrai público? Se não há atração, também não gera negócios. A lógica do mercado prevalece. Há tempos defendo o papel da televisão estatal como palco para os esportes olímpicos. Não falo apenas da TV Brasil, mas de todo canal estatal que devesse dar lugar aos esportes olímpicos. Entendo perfeitamente que ao optar por uma competição ou por alguma modalidade, um canal comercial necessita de retorno para honrar seus compromissos financeiros. Como um canal estatal está para além da lógico do lucro, ele poderia utilizar-se de pressuposto da difusão da cultura para transmissões esportivas, afinal, esporte também é cultura.

Você, caro leitor, concorda com esta possibilidade?

Albio Melchioretto (Colunista)
Contato: albio.melchioretto@gmail.com
Twitter: @amelchioretto 

O que me chama atenção também para discussão é que ao mencionar o não-retorno de público, os canais de televisão podem ser eximidos de culpa pela não transmissão, recaindo ao telespectador o peso da ausência. Isto não foi dito no Linha de Passe, sou eu que estou especulando. O faço porque ao apontar o não-retorno como condicional da ausência, é um grande risco, e a relação com a falta de interesse do espectador me parece óbvio. Entretanto, poderíamos também perguntar, a falta de interesse do espectador seria um resultado da ausência de eventos “alternativos” na mídia?

Mesmo assim algumas ideias ainda podem ser pensadas. O brasileiro gosta de futebol ou gosta apenas do seu clube? Chego a esta pergunta por conta que li, noutro dia, que os assinantes do Première o fazem, não pelo futebol brasileiro, mas para ter acesso aos jogos do seu clube de torcida. Seria a paixão clubista um fator cultural? O Flamengo, no basquete, atrai um bom público aos ginásios, como também o Corinthians o faz no futsal. Então outra saída, além da exposição da televisão estatal seria uma aliança dos esportes olímpicos com as marcas de futebol? Se a resposta for sim, ainda há a questão de retorno financeiro, já que, somente com o futebol, os clubes amargam prejuízo. Mas como aconteceu nos outros países? A lógica do futebol parece ser algo próprio de nossa cultura.

Ao acompanhar noticiários esportivos da CNN; Telesur; Hispan TV; RTPi e TV España durante Rio-16 percebi que o futebol tem seu destaque também, como cá, afinal é um dos maiores retornos de mídias (não estou brigando pela eliminação do espaço do futebol), mas o espaço apresentado aos outros esportes é maior, que aqui. Então, o que nos resta?

Baixe nosso APP para todos os tablets e smartphones.
Curta nossa página no Facebook.
Siga o Esporteemidia.com no Twitter.
Nos acompanhe no Google+.



Postagem Anterior Próxima Postagem