Alipio Jr. #106: Reflexos da sociedade

Colunista faz análise da cobertura dos Jogos Paralímpicos (Foto: Rio 2016/Brandão)
Apesar de o Brasil ser uma potência paralimpica, muito superior ao que faz nas Olimpíadas, o destaque na imprensa não é o mesmo. Se a programação foi extinta por causa do primeiro evento ou fatiada de acordo com os eventos apresentados, neste resumiu-se aos canais pagos e um outro flash no canal aberto.

A própria Rede Globo foi duramente criticada ao falar em suas redes sociais sobre a beleza da abertura, a emoção das vitórias, mas tem dado mais importância às novelas que ao garboso evento em si, apesar dele ser realizado em nosso país e com grandes chances para o pachequismo, considerando os resultados que seriam (e estão sendo) apresentados.

O curioso é que isso não me surpreende como também não deve surpreender aos leitores. Acredito friamente que nossa sociedade decadente e decrépita sempre consegue uma maneira de demonstrar que pode piorar e o trato aos deficientes de qualquer natureza é uma grande demonstração disso.

Permita-me contar a história de um rapaz que conheci um cadeirante, chamado José (nome fictício). Peguei o trem com José uma vez e já foi aquele sacrifício. Não há lugar demarcado, quando há não é respeitado e José veio sacolejando por 50min, contando com a simpatia dos demais usuários, já que a Concessionária em si pouco faz para ajudar-lhe.

Alipio Jr. - colunista do Esporteemidia.com
@alipioj
Ao chegar na estação terminal, com muito custo e sozinho, ajudei José a desembarcar do trem e pra variar, não havia nem elevadores para deficientes. Apenas quase 40 degraus de escada. Deixei José na plataforma e fui caçar algum funcionário para resolver o problema. Ao achar um único deles, o sujeito me disse: “Como vou resolver isso?”. Então lá fomos nós dois, ele e eu, carregar José no colo e aos poucos outros usuários também nos ajudaram.

Perguntei a José se não seria melhor descer em outra estação com escada rolante, fazer baldeação de ônibus etc., a resposta dele não poderia ser melhor: “Sou tratado desse jeito na maioria dos lugares, isso só faria com que mais gente me tratasse assim. Mas não se preocupe, essa é a minha luta diária e eu a venço todos os dias”.

Fica claro então que para uma sociedade que ignora deficientes de todas as espécies, quer seja no trato diário quer seja no transporte modal ou na falta de acessibilidades nos locais, o que vemos fazer com os Jogos Paralímpicos é apenas uma reprodução ampliada disso.

Azar de quem se prende a tais transmissões, pois estão perdendo gigantescas histórias de vitória de que personagens que não se tratam como coitados e sim vencedores. Se um atleta olímpico já pena para receber patrocínio, imagine o paraolímpico? Mas nenhum deles age com autocomiseração ou fazem desta dificuldade a escora para seus problemas. São tantas lições num momento só que vale a pena ir a cada evento possível e sintonizar em quantos forem possíveis.

Um grande abraço e até a próxima.

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