Trajano critica os comentaristas engraçadinhos: "falam um monte de asneira"

Trajano fala de ameaças, da saída da direção da ESPN e critica a busca pela audiência na TV fechada (Foto: Reprodução)
Em reportagem especial do UOL Esporte, por Luiza Oliveira e Vanderlei Lima, o comentarista José Trajano, dos canais ESPN, abordou diversos temas como a sua militância política. Ele não se considera um petista, mas sim Brizolista (Leonel Brizola) e Darcyzista (Darcy Ribeiro). E por ser um homem de esquerda é contra o impeachment de Dilma Rousseff. A militância custou caro. Acabou perseguido, ameaçado e impedido de entrar ao vivo em um jogo na Arena Corinthians durante a Copa por torcedores que tentaram agredi-lo.

O jornalista até precisou trocar o número de celular por conta das ofensas e fez questão de documentar os agressores. "Esse meu celular aqui é outro, eu troquei. Começaram a me ameaçar. Começaram a falar 'vou te pegar na rua', sua carreira acabou', 'petralha safado'. (...) Agora parou, mas se um dia acontecesse algo comigo, certamente partiria de algum débil mental desse aqui".

Ele ainda protagonizou uma briga com o colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo depois de ambos trocarem críticas em seus veículos. “Aí esse débil mental do Reinaldo Azevedo começou a me esculhambar na coluna dele. Eu disse na televisão que esse pessoal que vaiava era porque era estimulado por gente tipo ele, e ele começou, durante um mês, a escrever falando de mim, esse negócio todo”.

Trajano também falou na entrevista o episódio da participação do humorista Danilo Gentili em um programa da ESPN. "Alguns não gostaram do negócio que eu falei do Danilo Gentili, mas fora todo mundo gostou, de modo geral. Mas não gostaram porque eu esculhambei a produção do programa. Falei: 'Pô, para convidar um cara como esse, só uma produção alienada que não acompanha o que acontece pelo mundo'. E foi naquela semana do estupro lá no Rio de Janeiro, a coisa estava quente. Chamaram para conversar, e eu sou assim. Talvez tenha sido deselegante com a produção, mas...”. E continuou: "Já me chamaram algumas vezes. Na primeira vez foi essa briga com o Reinaldo Azevedo. Chama para dizer que é chato, que pegou mal, 'se puder evitar, é melhor'. E eu respondo que sou assim, vou fazer o quê?”.

Certo dia em uma reunião do canal, Trajano criticou a falta de comunicação da equipe. Foi interrompido por uma funcionária nova na casa que o questionou e disse que estava tudo ótimo.

"Aí eu não aguentei, mandei para aquele lugar. Você cria, depois de 17 anos vem alguém com três meses... Saí dali e não voltei mais. Fui para casa e no dia seguinte pedi demissão, aí fiz um acordo”.

Para Trajano tudo já pesava. O mercado, o desgaste, a pressão pela audiência, a intensidade do trabalho, as pessoas novas que começaram a ocupar cargos importantes.

“Defendo até a tese que já queriam me mandar embora havia muito tempo. Por muita gente lá dentro eu já teria ido, porque sempre fui uma pedra no sapato. Eu não admitia que o comercial se metesse muito na redação. Digo 'aqui não, vocês estão lá, nós aqui'. O marketing... Todas essas coisas novas, dessa modernidade de hoje, eu questionava pesquisa, esses mecanismos de medição”, diz.

Trajano passou ainda uns dois anos dando bronca na redação sem autoridade de chefe. “Fiquei um pouco perdido por ter que tirar o pé. Aquilo me tirou o chão, e eu fiquei insuportável”, diz ele que já se acostumou e tenta ver o canal como uma página virada. "O que eu fiz está feito, se foi bom ou ruim não tem conserto mais. Tem um grande valor que tenho, que é ser pioneiro e fazedor de uma série de coisas. E é a vez deles. Trajano agora é um retrato na parede, igual Getúlio Vargas."

Ele reclama do domínio do marketing sobre o jornalismo e mais ainda da mistura de jornalismo com entretenimento tão comum hoje em dia. É aí que surge um tipo que ele detesta: os comentaristas engraçadinhos.

“Tem quem tente virar personagem. Tem muita gente metido a engraçadinho, eles confundem, começa a ser piadista, falar um monte de asneira e achar que faz parte. Para mim não faz. Eu detesto isso. O cara não precisa ser sisudo, rancoroso, não é isso. Não é para todo mundo ser fechado. Mas não precisa ser palhaço também. (...) O humor é para quem sabe fazer humor, jornalista não sabe. Jornalista se mete a fazer humor e faz pessimamente, fica caquético, imbecil. Claro que, o que tem de imbecil dando sopa aí, eles gostam", diz Trajano, que critica a falta de bagagem dos comentaristas atualmente.

“O grande problema é que tem gente que entra na profissão que nunca passou por uma redação, nem de jornal, nem de televisão, rádio, nada, e já vira comentarista. O cara vira comentarista da noite para o dia”.

Ele ainda lamenta a audiência ser vista como prioridade. “É a vitória do marketing, que só pensa nisso. Todo mundo sabe que audiência não é sinônimo de qualidade, não tem nada a ver com qualidade, mas esse pessoal de novas mídias, marketing, planejamento estratégico, só vem perturbar a vida do jornalismo. Vêm de empresas americanas que vendiam chiclete e entram dentro de um veículo cujo produto maior, final, é o jornalismo e começam a interferir com pesquisas, normas e tal. Isso está arrasando”.

Para ler a reportagem especial do UOL Esporte, por Luiza Oliveira e Vanderlei Lima, com José Trajano, clique neste link.

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