Albio Melchioretto #112: A qualidade da TV paga é de prejuizo

Colunista questiona qualidade da TV fechada no aspecto esportivo (Reprodução)
“As cidades estão cheias de gente. As casas cheias de inquilinos. Os hotéis cheios de hóspedes. Os trens cheios de viajantes. Os cafés cheios de consumidores. As praias cheias de banhistas. O que antes não era problema, hoje começa a sê-lo: encontrar um lugar” (Ortega y Gasset). O lugar já foi um elemento para criar identidade, parece que não há mais algo tão forte. Se houve um tempo que os canais esportivos possuíam uma identidade de lugar, hoje somente algumas suavidades editorias, mas estão cheios, cheios de não-identidade. Tudo parece igual. E quando não há diferença sustentável, há o risco do entretenimento tornar-se algo enfadonho sustentado apenas por convenções de momento.

Alguém ainda lembra do comentário de Trajano, no finado programa matinal da ESPN da entrada da primeira Libertadores mostrada pelo Fox Sports? Naquele programa, o comentarista fez uma análise dos bastidores da televisão paga. As situações vão além das aparências da televisão. A compra da Time Warner pela AT&T, se aprovada pelo conselho de controle econômico nos Estados Unidos e no Brasil podem aproximar os canais Esporte Interativo com a operadora SKY sob uma mesma bandeira. No momento este seria o único canal esportivo do grupo para a América Latina, aliado a uma operadora. Isto significa uma possibilidade maior de investimento. O curioso é que o discurso de pequeno que venceu em meio a leões pode não mais se aplicar. Teremos o televisionamento esportivo no Brasil nas mãos de grupos midiáticos internacionais ainda mais forte do que já temos. O capitalismo liberal abocanhando as fatias e repartido entre si: Disney; Globo; AT&T e Murdoch. É briga para poucos cachorros. Mas não vejo esta iniciativa com bons olhos. Grandes grupos seguem tendências de mercado. A televisão esportiva não será janela de desenvolvimento de esportes, a tendência é de os olhos focarem apenas naquilo que é nata. Iniciativas como Superliga da Índia; Séries C; D; Colombiano; Chinês poderão ser ficar apenas com os patinhos feio, longe da briga e da mostragem. Os canais cheios da mesmice.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@amelchioretto
Enquanto vemos apenas fatias, em momento oportunos, surge um discurso hipócrita que o Brasil precisa apoiar o futebol feminino. Concordo que precisa, mas poucos o fazem. Este falar é tão hipócrita que ele não mais faz nenhum sentido existir. Lembro de ter escrito sobre a deselegância de Teo José, no bronze olímpico, cobrando explicações do diretor da seleção feminina da CBF. Um discurso jogado para o público, de pouca valia. Esta semana vivenciamos a final da Copa do Brasil, onde o time do Audax/Corinthians levantou o troféu. Mas ninguém viu! Nenhum canal mostrou, nem aqueles das “poderosas”, muito menos o patinho feio. De nada adianta um discurso hipócrita-ideológico de quatro em quatro anos. Tudo o que não for futebol masculino aqui no Brasil é tratado com desdém. O fracasso olímpico cabe as práticas que são realizadas. Às vezes, olho a grade do canal EuroSports, para Portugal, e fico na torcida iludida que algo assim pudesse haver aqui e até mesmo o faço com o GOL TV.  Qualquer esporte, se levado a sério, dá retorno de mídia. Os discursos cheios de hipocrisia.

Mas nem o futebol é levado a sério! Quinta-feira, ao acompanhar Chapecoense x Atlético Junior por dois canais distintos vi um desacordo de informações. Primeiro tempo no Fox Sports 2 e o segundo pela RBS TV. Duas transmissões sofríveis. No canal da raposa um ufanismo transformando o pequeno time do Oeste Catarinense em Brasil. No segundo, com Roberto Alves comentando superficialmente o jogo sem acrescentar a transmissão. A transmissão do Fox conseguiu ser pior, desconhecendo o regulamento da competição. Uma confusão, em cada comentário falavam do regulamento antigo da Libertadores aplicando-o a Sulamericana. É mínimo esperar que a transmissão conheça o funcionamento da competição. O canal, com sua “parceria” com a Conmebol tem obrigação de saber como funciona a competição. Mas pelo visto, a transmissão foi sem preparo desrespeitando o torcedor do índio verde e o aficionado pelo Futebol. O que é lamentável. Se pensar pela lógica do capital, a qualidade do produto que nos entregam é inferior ao valor que é cobrado. Os comentários cheios de ignorância.

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