'A mídia esportiva e jornalista não foi o que ela costuma ser, ele foi humanamente sensível", diz colunista sobre cobertura da tragédia do voo da Chape (Reprodução) |
Desde que vi a Chapecoense, na série D, superar o meu clube citadino, comecei a acompanhá-la e torcer. Na segunda, havia feito os últimos preparativos para levar um amigo a Curitiba para assistirmos juntos a grande decisão. Na manhã seguinte o choque, entre lágrimas tentava entender o que era aquilo no ‘Hora1’, mentindo para mim mesmo que pudesse haver sobreviventes, que aquilo tudo não fazia sentido. Trocava de canal numa esperança inexistente de que tudo não passasse de um engano. Mas a irmã morte não se enganou. E as notícias se repetiam, tela após tela.
Albio Melchioretto albio.melchioretto@gmail.com @amelchioretto |
A mídia fez seu papel, mas não era uma cobertura qualquer. Não sei explicar o que aconteceu. Por volta das nove horas, acompanhei o ‘Café com Jornal’ e vi uma discussão sobre o futuro do futebol do verdão e sem pensar tuitei, “penso ser falta de sensibilidade discutir o futuro do futebol da Chapecoense neste dia. O momento é para viver o luto e não a bola.” Sim, o luto, e a imprensa viveu este luto como nenhuma outra vez foi registrada. Vi jornalistas de todas os lados chorarem ao vivo, lágrimas caindo sem constrangimento, como estas que caem agora enquanto escrevo. A mídia esportiva e jornalista não foi o que ela costuma ser, ele foi humanamente sensível. Pouco importa quem vai cair, quando o Palmeiras vai levantar a taça, porque neste campeonato não há vencedores e nem haverá perdedores, apenas um grande vazio... A coluna do Alípio Jr, aqui no site, foi o não-escrito mais lindo que li. A tela preta, a não-imagem, do Fox Sports, foi a imagem mais forte. As ausências, nestes dois momentos, mostram toda a presença da dor.
Vivi para ver a irmã morte levar a beleza de um time sem craques, mas de jogadas bonitas, de empenho, de garra, de coletividade e motivação. Um modelo de gestão, de técnica que é um futebol simples, mas que Deva Pascovicci muito bem sintetizou, era o futebol do “espírito do Condá”. No último jogo da Chapecoense, critiquei em minha página que ela não era o Brasil na Sul-Americana, me enganei. Hoje ela é o Brasil no mundo, nos milhares de uniformes, nos milhares de homenagens, nas hashtags, a Chape, sou eu e é você...
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
(Vinicius de Moraes)
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