Há exatos 15 anos, o Brasil vencia a Alemanha na final Copa do Mundo da Coreia e do Japão e sagrava-se pentacampeã do mundo (Juca Varella/Folha Imagem) |
Meu tio já não está mais entre nós, mas a memória daquela época jamais foi esquecida por mim.
Na semana em que o Pentacampeonato do futebol brasileiro completa 15 anos, decidi pesquisar os detalhes da cobertura da mídia naquela ocasião. Afinal, entender a história da mídia no Brasil é importante para analisar a atual situação.
Os desafios para a imprensa esportiva eram muitos há 15 anos atrás. A competição foi sediada na Coreia do Sul e no Japão. A diferença de horário era de 12 horas em boa parte das partidas. Como cobrir uma Copa em que a grande maioria dos jogos aconteciam pela madrugada? O Mundial de 2002, foi um divisor de águas para a mídia esportiva nesse sentido.
Primeiro é preciso analisar o contexto. O grupo Globo era o detentor exclusivo dos direitos de transmissão da competição para o Brasil. Na Tv fechada, o SporTV transmitia todas as partidas, e na aberta, só era possível ver as partidas pela própria Globo.
O desafio da mídia que não tinha os direitos era enorme. A Espn estreou 5 programas sobre a Copa do Mundo, BandSports estreava o Dois Na Copa e transmitia Vts de partidas de edições anteriores dos Mundiais da FIFA.
Na TV aberta, a Bandeirantes transmitia diariamente às 20h30 o programa Apito Final, apresentado por Luciano do Valle e Silvio Luiz. A Record não deixou barato e transmitia o Terceiro Tempo Na Copa com apresentação de Milton Neves, às 20h15. Na Tv Cultura, Flávio Prado e Roberto Monteiro comandavam o Hora Do Esporte diariamente às 19h.
A Globo, que detinha os direitos, fazia uma cobertura completa do evento. Além da transmissão dos jogos com narradores no Japão e na Coreia. Galvão Bueno apresentava um programa especial ao final de cada dia de jogos. O Jornal Nacional e o Fantástico exibiam séries especiais sobre as Seleções, as sedes e os jogadores brasileiros.
Fátima Bernardes foi levada para ancorar o JN de lá. Um estúdio foi feito especialmente para ela. Mas segundo a própria emissora, a ideia não foi boa e ela começou a entrar ao vivo dos locais onde a Seleção estava. Assim, a apresentadora conseguiu furos de reportagem já que, por causa do fuso, o jornal acontecia ao mesmo tempo em que os atletas estavam saindo do hotel para treinar. Tanta proximidade fez com que Bernardes levasse o título de Musa da Copa pelos próprios jogadores.
Cerca de 800 convidados pela Globo viram a final daquela Copa com imagens em alta definição, o que era algo sensacional para a época. A partida entre Brasil e Alemanha foi vista nas duas únicas salas de cinema digital da América Latina na época. Uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
A força da Globo não parava por aí. O próprio técnico Felipão utilizou imagens da emissora em reuniões com os jogadores para mostra-los como estava a torcida no Brasil. Há quem diga que isso foi fundamental para o sentimento de vontade dos atletas em campo.
Aécio de Paula Colunista do Esporteemidia.com @TorcidaBrasil2 |
Devido aos custos da viagem, poucas rádios brasileiras foram cobrir o Mundial in loco. Já a mídia impressa suava para driblar o fato de ter que colocar o jornal nas bancas nas primeiras horas da manhã. Alguns jornais como O Globo, do Rio, optavam por levar edições especiais diárias por volta das 10h da manhã. Outros eram mais ousados, como o Correio Braziliense e colocavam duas manchetes na mesma capa. Uma com o Brasil ganhando, outra com o Brasil perdendo e escreva na parte inferior “Leia apenas a que for verdadeira”.
Muito mudou de lá pra cá. Foi naquele momento que a mídia transformou Felipão no maior treinador da história do futebol mundial. Jornais e programas queriam entrevistar o homem do Penta. Depois do 7 a 1, o mesmo Felipão foi transformado em algoz pela mesma mídia. Uma prova de que as transformações técnicas não mudam o poder que a mídia tem de construir heróis e vilões em um curto espaço de tempo.
E assim continuará.
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