Rafael Henzel esteve no 'Mariana Godoy Entrevista' na RedeTV! (Divulgação/RedeTV!) |
Diante da situação terrível que enfrentou, Henzel observou: "Eu fico muito impactado, porque as pessoas leem o livro e elas sabem que a vida é muito simples, a gente é que complica muito. Nós viemos de uma grande tragédia, nós não somos mais vítimas, nós fomos vítimas lá, hoje nós estamos vivendo nossa vida na plenitude novamente".
O jornalista garantiu que, mesmo depois do trauma, é possível levar uma vida normal: "Eu tive cinco dias de psicólogo, enquanto estive na Colômbia." Ele prosseguiu: "Eu sou uma pessoa simples, sou um jornalista do interior do estado de Santa Catarina que sofreu um acidente, na maior tragédia do esporte mundial, e além de tudo, pessoas todas conectadas por um motivo estando ali, mas eu fui vítima lá em novembro, eu estou vivendo minha vida na plenitude que eu posso estar hoje, feliz, triste por aqueles que se foram e assim a gente tem que viver a nossa vida. Eu escolhi, entre o sofrimento e a dor, dar a volta por cima, atacar os meus medos e foi isso que eu consegui fazer".
Henzel falou sobre o lançamento do livro, que ocorrerá em Chapecó no dia 8 de julho. Ele ainda participará do lançamento em outros locais do Brasil. O jornalista se mostrou agradecido a todos que torceram por seu restabelecimento: "Eu devo um abraço para cada pessoa que orou e, de repente, deixou o seu tempo de orar pra sua família pra me incluir, não só a mim, o Alan, o Neto, o Follmann, Tumiri e Ximena, os dois bolivianos também que sobreviveram".
O jornalista fez questão de ressaltar que, ao contrário do que foi informado em alguns momentos da cobertura do acidente, não houve pânico entre os passageiros do voo da LaMia. "Eu faço questão de dizer que estávamos todos felizes", disse Henzel antes de prosseguir. "Nós já estávamos havia quatro horas e pouco voando e o que me impactou e me chateou foi logo que caiu o voo surgiram informações de que as pessoas se apavoraram, que foram avisadas. Isso causa dor às pessoas que perderam os seus entes queridos e não houve nada disso". Ele foi além: "O voo deveria ter pousado quando, de repente, simplesmente desligou as turbinas". Henzel fez questão de enfatizar: "Não houve correria. As pessoas se sentaram e colocaram seus cintos, outras estavam dormindo". Para finalizar o assunto, ele garantiu: "Não houve pânico".
Rafael Henzel criticou Miguel Quiroga, comandante da aeronave que também morreu no acidente: "Foi muito relapso o piloto e acabou causando essas 71 mortes, uma sucessão de erros". O jornalista, no entanto, enfatizou a necessidade de não se transferir à família de Quiroga a raiva pelo acidente: "Eu sei que o piloto tem família também, como eu tenho minha família, então eu acho que não é para se transferir, porque as pessoas lá foram vítimas também, como nós fomos. É óbvio que os sentimentos são os mais variados nessa questão, até por conta do tamanho da tragédia, mas não transferir para os filhos pequenos, para a esposa, para o pai, para o irmão, para a mãe do piloto." Investigações indicaram que se o piloto tivesse comunicado a emergência, pagaria uma multa, mas receberia prioridade para o pouso: "Se ele falasse isso nós estaríamos hoje, de repente, falando sobre outra coisa. Eu preferia que todos estivessem aqui conosco", desabafou Henzel.
Rafael Henzel se lembrou dos colegas jornalistas que, diversas vezes, viajaram juntos de van pelas estradas do Brasil para cobrir os jogos da Chapecoense. Ele lamentou a fatalidade: "De repente, num voo, a gente acaba perdendo muitos amigos".
"Hoje são 211 dias de vida", disse Henzel antes de falar sobre as lembranças do resgate. "Eu enfrentei uma dificuldade muito grande, mas hoje estou com 211 dias de vida, são sete meses que a gente caiu naquela noite lá em Medellín. Eu vi algumas imagens, muitas imagens chegaram até mim também, não se falava de outra coisa até na televisão. Então, depois de quatro dias entubado, sedado, eu comecei a ter a noção. Eu já tinha uma certa noção quando eu acordei no meio do mato. Eu não lembro da pancada, porém eu lembro que eu acordei no meio do mato e vi meus colegas do meu lado, não vi o avião, porque ele desceu 200 metros além de onde eu estava, foi se desmanchando".
Rafael Henzel deu detalhes do voo e disse que era uma viagem muito informal. Ele contou que, diferentemente do que havia acontecido na viagem anterior, a imprensa foi deslocada para a parte de trás do avião, em virtude da presença no voo do presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim de Pádua Peixoto Filho.
O jornalista contou que trocou de lugar algumas vezes e fez uma revelação que, segundo ele, jamais havia feito antes: "Eu quero fazer um agradecimento, não é um agradecimento, não é a palavra ideal, mas o Renan Agnolin salvou a minha vida, meu colega. Eu acho que é a primeira vez que eu falo isso, porque quando eu fui sentar no corredor, onde ele sentou, ele disse 'não, não! Aí vou sentar eu, porque o Messi sentou aí na viagem da Argentina para o Brasil.'" Henzel disse acreditar que a brincadeira de Renan, que fez com que ele se sentasse em outro lugar, acabou poupando sua vida. "O Renan indiretamente, numa brincadeira, salvou minha vida, meu colega de trabalho".
O jornalista ponderou: "É algo inexplicável, eu sinto muito por todos, mas alguma coisa muito forte me segurou ali, não só a mim, mas aos outros cinco sobreviventes também. Eu não tento entender o que aconteceu, do ponto de vista desse milagre que a vida me proporcionou, eu só agradeço todos os dias, porque eu tenho certeza que Deus me abraçou algumas vezes ali naquele momento tão terrível, que a gente não tem nem noção de como nós fomos parar naquele local em que nós fomos encontrados".
Questionado se conseguiu voltar a voar sem medo, Henzel foi objetivo: "Talvez por ter descoberto logo que a causa foi falta de combustível eu fiquei muito tranquilo para voltar a voar". Ele lembrou que voltou com a Força Aérea Brasileira: "Fui muito seguro, muito tranquilo. Voo comercial foi logo depois de 45 dias e não tive problema algum. Eu sei que o que aconteceu não vai se repetir, que foi uma sucessão de erros e na aviação todos os erros que acontecem são investigados para que não se repitam. De repente, quantas vidas esses nossos heróis, esses nossos amigos que se foram, não salvaram. Porque algo me diz que se não fosse a Chapecoense seria outro time logo, logo". Ele voltou a falar de Quiroga: "O piloto, na pessoa física dele, era uma pessoa muito bacana, mas a pessoa jurídica nós não conhecíamos". Henzel criticou a postura que, tempos depois, descobriu-se que o piloto sempre adotava, a de pousar quase sem combustível: "Ele tornou a exceção uma prática". O jornalista ainda observou: "De repente Deus não me deixou aqui para ter ódio de ninguém. Cada um vai pagar por aquilo que cometeu, seja nesse plano ou em outro plano." Ele cobrou apuração e justiça para os familiares dos envolvidos da tragédia: "Que as vítimas recebam as suas indenizações para que sigam suas vidas".
Ao ser perguntado se processou a companhia aérea em virtude do acidente, Rafael Henzel desabafou: "Tirando a Chapecoense e o hospital de Chapecó, nunca ninguém me ligou para saber como eu estava." Ele prosseguiu: "Por aí você já tem uma noção do abandono em que essa empresa deixou todos nós." Ele confirmou que tanto ele, quanto as outras famílias de vítimas, têm advogados para buscar justiça. "Não é por dinheiro, mas que se tenha punição criminal e também financeira, para que as pessoas recomecem suas vidas apesar da perda", cobrou.
Rafael Henzel falou, ainda, dos voluntários que ajudaram no resgate e nos momentos que se sucederam ao acidente na Colômbia. O jornalista citou, especialmente, o médico anestesista Juan Diego Barrios, que fez questão de tranquilizar os familiares, parentes e amigos de Henzel: "Ele colocou no meu Facebook uma mensagem que eu estava vivo." De acordo com o jornalista, o médico ainda ligou à casa dele, em Santa Catarina, para confirmar que ele não havia morrido no acidente aéreo. Mais, Juan Barrios ofereceu a própria casa para que a mulher e um primo de Henzel pudessem ficar enquanto o jornalista estava internado. "Nós lá na UTI não tínhamos nem noção do que estava acontecendo", recordou o jornalista.
O jornalista chorou quando o filho Otávio contou, mais uma vez, que tinha certeza que o pai estava vivo, mesmo sem ter notícias concretas do acidente. Otávio, que estava na plateia do programa, disse: "Eu tinha que achar um jeito de consolar o pessoal lá em casa". O menino contou que estava certo de que o pai não havia morrido na queda da aeronave: "Eu tinha certeza e eu precisava ajudar todo mundo que estava lá em casa, para tentar melhorar um pouco o ânimo". Perguntado de onde vinha essa certeza, o menino respondeu: "Não sei de onde vinha, mas eu tinha".
A mulher de Henzel, Jussara Ersico, também falou sobre o drama vivido pela família. "Eu tinha certeza também". Ela, no entanto, disse que temia pela forma como encontraria o marido na Colômbia. "Eu queria ver ele inteiro. Aí cheguei, já peguei na mão dele, e disse: vim te buscar. Aí desmaiei".
Muito emocionado pelo depoimento dos familiares, Henzel admitiu: "Eu tenho a mínima ideia do sofrimento dos outros pelo sofrimento que a minha família passou. Eu vejo hoje, eu estou na minha casa, jogando meu videogame com meu filho e eu sei que tem 70 famílias que não". Como quem quer garantir algum consolo às famílias das vítimas fatais, Henzel reafirmou qua não houve pânico instantes antes do acidente com o voo da LaMia: "Eu às vezes chego à conclusão de que a diferença de quem se foi e de quem ficou é que uns acordaram no meio do mato e outros não acordaram, que foi o caso de nós seis. Porque realmente não teve nenhuma explicação, não teve nenhum alerta para que as pessoas fizessem aquela posição de impacto, absolutamente nada. Então, as pessoas se foram sem saber".
O jornalista reviu cenas das homenagens de brasileiros e colombianos à delegação da Chapecoense e a todas as vítimas da tragédia e repetiu: "Eu renasci no dia 29 de novembro e foi na Colômbia".
O cantor Marlon perguntou o que Rafael Henzel sentiu ao voltar ao local do acidente, em 9 de maio deste ano. O sobrevivente respondeu: "Eu, quando cheguei nos socorristas, primeiro fui conhecer o garoto Johan [Alexis Ramírez], que foi um garoto que mora numa casa muito simples, morava, porque agora até deram uma casa de presente para ele. Ele estava numa rede, ele e o pai dele, cada um numa rede assistindo televisão quando ele ouviu o estrondo". Henzel prosseguiu: "Ele saiu de casa para fazer dois quilômetros no frio, na chuva, porque ele podia ter ficado em casa, na rede, quentinho, mas ele foi. E ele chegando, conseguiu ajudar os socorristas a chegarem em dez, 20 minutos no local e isso pode fazer uma diferença incrível". O jornalista disse que quis fazer o mesmo trajeto feito pelo garoto e pelo pai para resgatá-lo: "Eu fiz todo o percurso e cheguei completamente desgastado".
Henzel ainda falou sobre o resgate de um dos zagueiros da Chapecoense: "O Neto foi um milagre também. Pelo suspiro dele um socorrista descobriu." Depois desse relato, ele enfatizou a importância do trabalho das equipes de resgate: "Eu vou parabenizar a minha vida inteira os socorristas, bombeiros do Brasil, porque eles não desistiram. Henzel contou todos os problemas de saúde que enfrentou em decorrência do acidente, mas garantiu: "Morrer não me passou pela cabeça. Eu jamais pensei na palavra morte".
A entrevista foi interrompida por alguns instantes para que Marlon & Maicon apresentassem a canção 'Por Te Amar Assim'.
Na sequência, Rafael Henzel falou sobre as dificuldades iniciais do tratamento depois do acidente: "Eu parecia aquele cão que ficava preso muito tempo, que foi no tratamento, e quando soltou a guia eu saí e não, eu tive que me adaptar ao tratamento." Ele admitiu a impaciência para sair do hospital, mas, depois de repensar sua situação, conformou-se em se demorar mais tempo no hospital: "O que são trinta, quarenta dias, para trinta, quarenta, cinquenta anos?".
Rafael Henzel se mostrou surpreso por ter recuperado, inclusive, seus pertences que estavam no voo: "Eu desapeguei completamente, até por conta de tudo que aconteceu e a gente sabe dos familiares a importância que era receber qualquer coisa que fosse". Com uma medalha no pescoço, ele disse: "É um símbolo da própria Chapecoense, que eu vou levar para sempre comigo. Cada vez mais eu tenho essa instituição perto do meu coração." Ele ainda se disse comovido por encontrar pessoas que, sem saber quem são os atletas da Chapecoense, acabaram se associando ao clube: "É impressionante o amor que as pessoas têm por um clube de futebol do interior de Santa Catarina, obviamente por conta da tragédia".
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