COLUNA #174 | Para todo salvador há a existência de um demônio, por Albio Melchioretto

Para colunista, mídia tratou o ex-treinador ddo Flamengo como um verdadeiro vilão (Gilvan de Souza/Flamengo)
Em tempos de desinformação, fake News e notícias imprecisas, refletir sobre personagens é um ponto que poderia trazer certo equilíbrio nas análises exageradas. Em certo grau, a mídia exerce um grande poder. Ao comentar a maneira como são direcionados heróis e vilões nas mídias tradicionais, o sociológico espanhol Manuel Castells, afirmou que “torturar corpos é menos eficaz que modelar mentalidades”. A modelação é uma construção sistemática.

Este foi o primeiro ponto, o outro elemento deste pré-texto, é um Twitter de Mauro Cezar Pereira, visto na sexta-feira, 12, “jornalismo bem feito incomoda ignorantes e cegos voluntários, aqueles que rejeitam a verdade, espécie de cornos mansos da informação.

O mais recompensador é o que o final da história conhecemos bem: os fatos acabam descendo pela goela do biltre. Merece até um brinde!”. Não vou entrar no mérito da questão de MCP, apenas tomar a frase solta, aliás, é disso que gosto do Twitter, das frases soltas de histórias.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@amelchioretto
Temos dois pontos para a coluna desta semana. O domínio da informação e aquele que cegamente sujeita-se a informação.

José Mourinho, treinador do Manchester United é muitas vezes visto como vilão ou como um personagem prosaico arrogante a desafiar a mídia. Uma espécie de Dunga Treinador, só que bem-sucedido. Aproveitei as férias da academia para degustar novas leituras. Na busca por outros textos encontrei um editorial do The Guardian, criticando a mesmice de Mourinho e seus discursos que tentam desqualificar o sucesso do seu adversário direito. Para um vilão, há o outro, o herói. O editorial do The Guardian trabalha muito bem com esta dicotomia.

Desconstrói o trabalho de Mourinho e supervaloriza, em poucas palavras o sucesso de Guardiola. Não é uma questão de defesa de A ou B, mas é um editorial que desmonta um trabalho e aponta outro. Pessoalmente prefiro o treinador do City, mas uma coisa é preferência pessoal, outra é um texto para um editorial.

Os primeiros dias do ano deixaram a pauta esportiva no Brasil com um violão próprio - Reinaldo Rueda. A mídia tratou o treinador da seleção chilena como um verdadeiro vilão. Entendo o fato da seguinte forma. O trabalhador estava de férias, no retorno dela, ele tomou as decisões que cabiam e deu uma direção ao seu trabalho. Não vejo grande dificuldade em entender isto. Mas os programas de debate da tarde vociferavam contra o treinador exigindo que ele quebrasse a pausa natalina para resolver problemas da instituição que então estava ligado. Nesta celeuma toda encontrar notícias diferentes daquelas da televisão esportiva brasileira foi um trabalho ardiloso. A mídia informacional do Chile e da Colômbia pouca coisa noticiava. O que vi de lá, eram as mesmas coisas que saiam por aqui. A mídia brasileira criticava e muito (e com certa razão) a passividade da diretoria do Flamengo, mas não vi nenhum canal enviar um correspondente internacional para Colômbia ou para o Chile. Criou-se um vilão à distância e os fatos não foram apurados. Talvez a mídia de Chile e Colômbia trabalhavam com maturidade superior o fato que a mídia de cá.

Fatos colocados sobre a mesa, o que pretendo chamar atenção, na coluna de hoje são os personagens que a mídia cria o tempo inteiro. Elege vilões, conduzem a um processo público de execução, como se fosse justo, e escolhe alguns bodes para heroizinhos. No fundo, são pessoas com poder de decisão e exercício de escolha por caminhos que julgam ser melhores ou piores, mas são escolhas. O trabalho de Mourinho é possível de questionamentos, como também poder-se- ia fazer diferente no caso Rueda, mas não são vilões, nem mocinhos, são bons treinadores que exercem escolhas. Pelo visto nos primeiros dias, um ano novo, mas de práticas velhas.

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