Coluna do Professor #296, por Albio Melchioretto

(Reprodução)
O LUTO E A VOLTA DO FUTEBOL

Nos últimos dias, Wanderley Luxemburgo, treinador do Palmeiras, participou de uma coletiva virtual. Uma maneira interesse de se conectar com a mídia e com os torcedores. Gosto, por demais, das falas de Luxemburgo, ele faz pensar. Alguns dirão, “polêmico”, prefiro categorizá-lo como audacioso. Ainda bem que existam pessoas deste naipe no futebol, que nos provocam a pensar. Umas das frases que da coletiva, tornou-se o mote para a coluna da semana. Diz o treinador, “como se o futebol fosse a máquina do mundo”.

O futebol é um brinquedo de luxo e tratar a volta é uma decisão cautelosa, pois carrega consigo, alguns problemas (Coluna #295). Um deles é o luto. A volta rápida do futebol, inclusive no velho mundo e na Ásia, eliminam o direito ao luto em meio a uma crise sanitária. Algo como se pensássemos primeiro no entretenimento de luxo e depois na vida em si. Na contramão do entretenimento, o governador do Estado de S. Paulo, João Dória (PSDB/SP), decretou luto oficial no estado, em homenagem as milhares de vítimas do COVID19. Vejo estes movimentos como um grande paradoxo entre a celebração do futebol e a vivência do luto.

O luto relaciona-se com a morte, é produto da ausência causada pela morte. Sigmund Freud, a estudar o sentido da morte, menciona que ela está no limite do aceitável. Muito embora saibamos que a morte é um fato natural, na construção cultural, ela não tem um sentido específico. Para Jean-Paul Sartre, a morte é um fato puro. Os bioeticistas, ao pensar a morte, a ligam com a dignidade da pessoa. Então, diante da morte existe um processo natural com códigos culturais que acompanham os sujeitos envolvidos e a dignidade dos que falecem. Um dos problemas que enfrentamos neste momento é a aceleração dos processos de morrer e de sentir o luto que o COVID19 impôs.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@professoralbio
Este processo se sentimento do pesar, de tristeza profunda é anulado culturalmente. No luto existe uma questão de saúde mental e psicossocial, onde os envolvidos sentem e se deixam sentir diante do ritual de despedida. A volta do futebol, neste contexto, nega o sentimento de luto. E pelos números crescentes, aqui no Brasil, não é apenas uma questão de luto individual, mas coletivo, como muito bem, João Dória, direcionou na coletiva de 06 de maio de 2020.

Alguém poderá dizer, muitos morrerão, “e daí”, não podemos fazer milagres. Não é preciso milagre, mas dignidade. Algumas ligas não respeitaram as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como falamos na Coluna #292. Outras já se posicionaram para o fim dos torneios, como trabalhado na Coluna #295. Algumas anunciaram a volta, como é o caso da Bundesliga, Kleague e Liga NOS. Vivemos num espaço global. Como celebrar o jogo – de portões fechados – diante do luto de tantos mortos e privação do sentimento de distanciamento eterno? Me parece que comemorar um gol será o equivalente a dançar sobre uma sepultura, como se o futebol fosse a máquina do mundo. Se narrador fosse, não gritaria gol.

Diante disto, o que falar do UFC, de 9 de maio de 2020?




4 Comentários

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  1. As pessoas precisam de um pouco de alegria. Viva em luto eternamente e a depressão não sai de vc. O esporte sempre é um momento de alegria, respeitar o luto e a tristeza são importantes, só que se vc torna isso eterno, é um loop infinito para levar todos ao buraco da tristeza e não sair mais dela. Isso caba se tornando algo ruim, em vez, de bom. Ninguém vai sambar na cova de ng, mas se as pessoas não voltarem a ter um pouco do seu cotidiano, elas estão fadadas a não recuperarem.

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    1. Ai é questão de ir atrás de um psicólogo.

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    2. É fácil quem não se expõe e gosta de receber o pão e circo pedir pra voltar tudo logo.

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