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Nos últimos dias, Wanderley Luxemburgo, treinador do Palmeiras, participou de uma coletiva virtual. Uma maneira interesse de se conectar com a mídia e com os torcedores. Gosto, por demais, das falas de Luxemburgo, ele faz pensar. Alguns dirão, “polêmico”, prefiro categorizá-lo como audacioso. Ainda bem que existam pessoas deste naipe no futebol, que nos provocam a pensar. Umas das frases que da coletiva, tornou-se o mote para a coluna da semana. Diz o treinador, “como se o futebol fosse a máquina do mundo”.
O futebol é um brinquedo de luxo e tratar a volta é uma decisão cautelosa, pois carrega consigo, alguns problemas (Coluna #295). Um deles é o luto. A volta rápida do futebol, inclusive no velho mundo e na Ásia, eliminam o direito ao luto em meio a uma crise sanitária. Algo como se pensássemos primeiro no entretenimento de luxo e depois na vida em si. Na contramão do entretenimento, o governador do Estado de S. Paulo, João Dória (PSDB/SP), decretou luto oficial no estado, em homenagem as milhares de vítimas do COVID19. Vejo estes movimentos como um grande paradoxo entre a celebração do futebol e a vivência do luto.
O luto relaciona-se com a morte, é produto da ausência causada pela morte. Sigmund Freud, a estudar o sentido da morte, menciona que ela está no limite do aceitável. Muito embora saibamos que a morte é um fato natural, na construção cultural, ela não tem um sentido específico. Para Jean-Paul Sartre, a morte é um fato puro. Os bioeticistas, ao pensar a morte, a ligam com a dignidade da pessoa. Então, diante da morte existe um processo natural com códigos culturais que acompanham os sujeitos envolvidos e a dignidade dos que falecem. Um dos problemas que enfrentamos neste momento é a aceleração dos processos de morrer e de sentir o luto que o COVID19 impôs.
Albio Melchioretto albio.melchioretto@gmail.com @professoralbio |
Alguém poderá dizer, muitos morrerão, “e daí”, não podemos fazer milagres. Não é preciso milagre, mas dignidade. Algumas ligas não respeitaram as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como falamos na Coluna #292. Outras já se posicionaram para o fim dos torneios, como trabalhado na Coluna #295. Algumas anunciaram a volta, como é o caso da Bundesliga, Kleague e Liga NOS. Vivemos num espaço global. Como celebrar o jogo – de portões fechados – diante do luto de tantos mortos e privação do sentimento de distanciamento eterno? Me parece que comemorar um gol será o equivalente a dançar sobre uma sepultura, como se o futebol fosse a máquina do mundo. Se narrador fosse, não gritaria gol.
Diante disto, o que falar do UFC, de 9 de maio de 2020?
De acordo.
ResponderExcluirAs pessoas precisam de um pouco de alegria. Viva em luto eternamente e a depressão não sai de vc. O esporte sempre é um momento de alegria, respeitar o luto e a tristeza são importantes, só que se vc torna isso eterno, é um loop infinito para levar todos ao buraco da tristeza e não sair mais dela. Isso caba se tornando algo ruim, em vez, de bom. Ninguém vai sambar na cova de ng, mas se as pessoas não voltarem a ter um pouco do seu cotidiano, elas estão fadadas a não recuperarem.
ResponderExcluirAi é questão de ir atrás de um psicólogo.
ExcluirÉ fácil quem não se expõe e gosta de receber o pão e circo pedir pra voltar tudo logo.
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