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No mesmo dia do retorno da Premier League, havia também o jogo da final da Coppa Italia. Programei-me para acompanhar ambos, mas os gestos de humanidade de Aston Villa vs. Sheffield United fez a final da Copa tornar-se uma nota de rodapé diante da iniciativa da Premier League. Se os dirigentes-coveiros da Federação Carioca de Futebol (FERJ) prestassem atenção no modelo inglês, o futebol em terra brazilis seria mais digno.
A volta do Premier League apresentou iniciativas institucionais para pensar a importância da vida. Imbecis existem lá também, a diretoria do Burley agiu rapidamente diante de uma teco-teco. Foco no que é nobre! Em vez do nome dos jogadores na camisa uma mensagem. O minuto de silêncio junto com o gesto eternizado por Colin Kaepernick ajoelhado-se teve um peso de reflexão.
Onde chegar com tais manifestações? O “nós” da mídia perpetua um racismo estrutural. Basta abrir qualquer jornal esportivo e as manchetes falam do mundo dos brancos. Reportamos um modo branco europeu de se pensar esportes e sua estrutura competitiva. O movimento internacional que reitera que as vidas negras importam é uma oportunidade importante para superar uma questão cultural profunda.
A sociedade ocidental foi construída a partir de um modelo civilizatório de exploração da força negra. Há uma dívida histórica banhada de sangue. E o esporte continua a explorar. Senão com a escravidão, com as ideias. Não temos futebol africano cotidianamente na televisão. Quando alguma competição aparece, é tratada como “futebol exótico”. Que ideia perversa.
A Copa das Nações Africanas, às vezes. Jogos das eliminatórias aqui e ali. Ano passado a ESPN mostrou um torneio da costa ocidental da África. Mas é só. Não há naturalidade e ver o outro-futebol. E quando está aqui é classificado como bizzaro. O cinema faz pensar. O filme V for Vendetta e Lacasa de Papel apontam que uma ideia é maior que uma ação. Os dois enredos são focadas na ideia. Quando chamamos futebol africano de exótico ou bizarro, evidenciamos uma ideia perversa. Estruturamos a perversidade da inferioridade. E não é de hoje.
Albio Melchioretto albio.melchioretto@gmail.com @professoralbio |
E “nós” da imprensa temos grande culpa no processo. Criamos um território imaterial onde alguns valores exploratórios são maiores que outros. O futebol branco. O mundo eurocêntrico, a grande mídia, um modo de pensar colonizado. E tudo isso parece viver na normalidade do esporte…
Por isso, #blacklivesmatter é o chamado para todos respeitarmos a vida dos mais vulneráveis. Vidas negras importam, vidas marginais importam. Parabéns a Premeir League por institucionalizar no futebol uma discussão importante.