Coluna do professor #395: The Super League “europeia”: a evolução ou clube do bolinha?

Reprodução/Facebook

A superliga europeia é um projeto de uma nova competição de futebol entre os principais clubes da Europa, que pretende rivalizar com as competições da UEFA. A ideia era criar uma liga fechada envolvendo as maiores potências do continente. O projeto foi anunciado em 2021 e a recebeu um novo capítulo ao longo do mês de dezembro. Uma discussão forte do continente que venceu as últimas 11 edições dos mundiais de Clubes da FIFA. 

Na quinta-feira, 21 de dezembro, o Tribunal Superior da Europa anunciou que o controle da organização de torneios pela Uefa é um monopólio ilegal, segundo a regulamentação da União Europeia. Logo, o exercício sobre ligas não é monopólio da FIFA ou da UEFA, tornando qualquer liga de futebol uma ação válida. Na prática, qualquer clube ligado a UEFA poderia participar de competições não reguladas por ela. O futebol é prática livre e os clubes estão livres da ameaça de sanções e abertos para determinarem o seu futuro.

“São poucos os que vivem o mundo do futebol com consciência de que as desculpas morreram de velhas e da necessidade de mudar o superado modelo de gestão do século passado” (Juca Kfouri, Folha de S. Paulo, 8.fev.2023). Os clubes europeus ensaiam uma mudança de paradigma no modelo de gestão. Será um avanço ou representa um enclausuramento de endinheirados?

O modelo de liga fechado é adotado no esporte estadunidense, e por lá, um sucesso absoluto. São inexpressivos os que discutem um sistema de acesso e descenso na MLS (Major League Soccer) ou qualquer outra liga de esportes. Entendo a questão cultural. Mexicanos copiaram o modelo, em poucos anos há sucesso de público e de receita. Canadenses seguem, mas a  Canadian Premier League é tão relevante quando os torneios do Suriname. Os resultados ainda são pífios na internacionalização das competições. 

Copiando o modelo da América do Norte, os europeus da The Super League (nomezinho arrogante!) buscam ampliar as receitas dos clubes participantes, aumentando o recebimento dos direitos de transmissão e dos patrocínios sem as ingerências do modelo de federações. Modelo aliás, que Premier League; Bundesliga e La Liga já mostraram ser mais eficientes que a dependência das federações. 

Jogos de maior interesse de público. Jogo entre os grandes tem um apelo midiático maior que o jogo que um entusiasta que chegar à liderança do torneio pela primeira vez. Os grandes confrontos não dependeriam mais do desempenho dos clubes em ligas nacionais. Grandes confrontos estariam garantidos anos após anos.  Atratividade em vez de mérito esportivo.

Por outro lado, a tal The Super League reduziria a competitividade e a diversidade do futebol europeu, que ficaria concentrado em poucos clubes e excluindo os demais. Mesmo com o último sistema divulgado, a premissa passa longe da democratização do acesso às competições. O que parece ir à contramão de todas as competições nos últimos vinte anos, mundo afora. 

A discussão do “clube do bolinha” rompe com o sistema de mérito e de solidariedade do futebol, que premia os clubes pelo seu desempenho e distribui os recursos entre os diferentes níveis e países. Esta medida enfrentar a oposição e as sanções dos órgãos reguladores, das federações nacionais, dos torcedores, dos jogadores, dos técnicos e de outras entidades do futebol, que consideram a proposta injusta, elitista e prejudicial ao esporte.

E nós torcedores e fãs do futebol como ficamos? Entendo que seja uma quebra significante de paradigmas, que há uma lógica estruturada de competições no qual o futebol estruturou-se até hoje. Mas há algo no modelo de ligas “fechadas” que traz um impacto profundo. Os estadunidenses acertaram, mas, ao mesmo tempo, só eles acertaram.

Prof. Albio Fabian Melchioretto (@professoralbio)

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