Coluna do professor #410: Entre o amadorismo e a inovação

Foto: Hermes de Paula/Flamengo

Nas últimas semanas, a TV Flamengo (antiga FlaTV) realizou movimentações estratégicas, contratou profissionais reconhecidos no mercado, reformulou sua estrutura e prometeu grandes avanços. O canal, acessível exclusivamente pelo YouTube, deixou de ser distribuído como serviço pago à parte no Globoplay – uma mudança significativa na forma como o Clube de Regatas do Flamengo se comunica com sua torcida. 

A TV Flamengo é o canal oficial do clube e oferece uma variedade de conteúdos exclusivos, incluindo transmissões ao vivo de jogos, como NBB e Futebol Feminino. Além destes apresenta entrevistas, bastidores e análises. A iniciativa, porém, não é novidade no Brasil. Há uma década, a TV Corinthians estreava na extinta OiTV, e hoje plataformas como PlutoTV disponibilizam canais como o Real Madrid TV. Na Europa, esses canais são consolidados em operadoras de TV e serviços de streaming, uma realidade ainda distante por aqui. 

Os canais de clube permitem uma comunicação sem intermediários, falando diretamente com o público mais engajado que são os torcedores. A TV Flamengo, por exemplo, não busca atingir o público geral, como fazem as emissoras abertas, mas sim os flamenguistas. Essa abordagem pode fortalecer a identificação emocional e, ao mesmo tempo, gerar receita por meio de patrocínios, anúncios ou modelos híbridos, como o extinto FlaTV+ ou o Barça One, streaming freemium do Barcelona. 

No entanto, há um risco claro, à medida que os clubes se fecham em suas próprias bolhas midiáticas, o conteúdo tende a ser pouco crítico e superficial. Durante a transmissão do NBB entre Flamengo e Vasco pela TV Flamengo, por exemplo, a cobertura priorizou apenas um lado da partida, com análises rasas e quase nenhuma menção ao adversário. 

Os canais de clube no YouTube oscilam entre a falta de profissionalismo, como a edição precária, roteiros fracos e a busca por inovação apresentando conteúdos exclusivos e proximidade com os torcedores. O desafio é equilibrar essa equação.  Entregar um material de qualidade que agrade não apenas os fanáticos, mas também os espectadores que buscam profundidade técnica e pluralidade de vozes. 

Será que os clubes brasileiros seguirão o caminho europeu, com produções cada vez mais sofisticadas? Ou continuarão presos a um modelo que prioriza o marketing institucional em detrimento do jornalismo esportivo? A TV Flamengo, em sua nova fase, pode ser um termômetro interessante para essa discussão. 

Sobre o autor: 

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias.  

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